Nossa capa e a entrevista do mês prestam tributo a uma atriz que personifica no cinema brasileiro o desejo extremo de respirar arte como experiência, e que se entrega a cada papel na busca dessa transcendência - Gilda Nomacce é uma artista que respira arte por todos os poros. Ela se transforma a cada papel, e constrói sua presença cênica e se projeta no imaginário do cinema brasileiro de horror e do fantástico, deixando sempre sua assinatura em cada personagem. Como toda autora de si, Gilda reverbera suas interpretações em todas as formas possíveis, participando de filmes, séries, peças, óperas, e ainda ministrando oficinas, e está completando 42 anos de carreira com mais de 100 filmes.
Muitos outros diretores e atores trilharam caminhos inusitados, sem falar nos escritores, esses seres que perambulam pela eternidade e costumam ser mais lembrados depois que morrem. Gabriel Garcia Márquez, que além de escritor, foi roteirista, assim como Juan Rulfo, resistiu em vida a ver suas obras adaptadas para as grandes e pequenas telas. Gabo não se resumiu a ser o artista essencial que hoje poucos conhecem, mas foi também um dos principais articuladores da Escuela Internacional de Cine y Televisión (EICTV), ao lado de Birri, Espinosa e Sérgio Santos. As grandes plataformas globais parecem interessadas em recuperar suas contribuições, como podemos ver por Pedro Páramo e Cem Anos de Solidão, ambos da Netflix, e em Como Água para Chocolate, produzido por Salma Hayek para HBO, e na recém-anunciada A Casa dos Espíritos, produzido pela própria Isabel Allende e por Eva Longoria. Os resultados não são unânimes, mas a ideia de produzir uma obra glocal, com DNA gringo e sotaques discutíveis, ao que parece, vai sendo aposentada, e pode ser saudada como a nova buena onda do realismo mágico.
Na seção Contos Extraordinários buscamos recuperar a tradição de incluir
literatura no formato revista, uma tendência que vem desde os primeiros periódicos
jornalísticos. A autora Finísia Fidelis foi "descoberta" no Concurso de Contos da
Editora Escrita, em 1983. O conto A Ressureição de Lázaro foi publicado na extinta
Revista Quark N.º 10, em 2001 e integrou a antologia Feminist Voices: The Best of
Femspec's Creative Work (2013), editada por Batya Susan Weinbaum. Na seção
Livros, uma antologia e um ensaio produzidos por pesquisadores brasileiros e
lançadas nos Estados Unidos e Reino Unido, surgem como referência importante
para abordar o nosso cinema de gênero de Ficção Científica e Horror. Nossa
colaboradora Mariana Lima assina dois ensaios, o primeiro sob o polêmico e
aclamado A Substância, o segundo sobre o escritor paraense Tanto Tupiassu. O
lançamento de Capitão América: Admirável Mundo Novo pela Disney é abordado
por Anne Quiangala João em artigo sobre o protagonismo feminino negro nas
criações de HQ e Cinema da Marvel.