O Trem do Atlântico parte de uma não estação: o primeiro registro do livro já põe o leitor a meditar acerca das origens desconhecidas, pois começa com reticências, o que faz supor que é uma história que se continua de outra. Mas qual outra? Saberá o leitor a seu respeito enquanto esta se desenrola? Tão logo embarcado nesta provocação de um simples sinal de pontuação, segue-se a afirmação que insinua o tom de toda a narrativa que se seguirá: "...e poria o coração de tal modo em cada frase, que ninguém suspeitaria de outra coisa." Anuncia-se, com isso, ainda na plataforma de embarque, no justo momento da partida, uma narrativa indubitável, cuja verossimilhança e credibilidade repousarão sobre o movimento da emoção a conduzir a precisão da tessitura racional da própria narrativa! E é justamente o que se verá a partir da frase seguinte, já convertida em prosaica cena, até o término da envolvente viagem que o enredo proporcionará.
Luiz Eduardo de Carvalho
[ Escritor ]