Escrever sobre a realidade nua e crua (e, triste, aética), de um país de históricos contrastes sociais como o Brasil, é ficar com o dedo entre a ferida e a cicatriz. É dolorosa ficção com farto material de inexplicável incompetência; improbidade e malversação do exercício da Democracia como transparência e dimensão jurídico-legal. Mas o autor colhe sonhos, embaraça situações verídicas, pega a história pelo pé e consciente cria (cria?) o crivo doloroso de um sonho civil sequestrado, em que refém e sequestradores se encontram em tramas, E não se sabe onde começa o ético-legal e termina o escopo oficial. O leitor vai achar que se viu na história toda. De alguma maneira. A "história" se repete? Ou o ditatorial (e seus asseclas) sempre retornam ao local do crime estatizante? Ou, na verdade, nunca saíram do musgo palaciano? O leitor vai entrar com a sua bagagem na leitura. Bertold Brecht dizia que o pior ignorante é o ignorante político. O leitor aceita o puro prazer da leitura para pôr pra fora uma verdade no seu sentir/votar, ou vai achar a verdade radical? E preferiria fazer parte da chamada Banda dos Contentes? E aí que mora o perigo. Ler esse livro é enxergar no claro e lúcido. Claro que autor cria para somar fatos e acontecências impróprias para o digno exercício coletivo da cidadania. A dura realidade não é virtual. E não há como terceirizar o nacionalismo que o sonho preconiza. Democracia é uma arte de engolir sapos? Pode ser. Mas a história brasileira precisa de oxigênio ético-social. Os vitoriosos contam histórias e vantagens? Os déspotas, débeis mentais e ditadores também valoram o poder a qualquer custo. E não existem outros?