Há duas décadas, a Igreja Católica vem sendo sacudida por escândalos de pedofilia. Milhares de casos envolvendo o clero se alastraram pelo mundo, a partir do Estados Unidos, em 2002, quando foram trazidos à tona pela equipe investigativa Spotlight do jornal "The Boston Globe" (que deu origem ao filme "Spotlight ¿ Segredos revelados"). No entanto, o Brasil, maior nação católica do planeta, passou ao largo das denúncias.
Num trabalho inédito de reportagem, "Pedofilia na Igreja" revela um quadro não menos dramático no país e joga luz sobre os abusadores de crianças e suas redes de proteção. Ao longo de três anos, Fábio Gusmão e Giampaolo Morgado Braga, experientes e premiados jornalistas, pesquisaram mais de 25 mil páginas de documentos em tribunais, ministérios públicos, inquéritos policiais, dossiês, relatórios e bases de dados internacionais. Também ouviram vítimas e seus parentes, promotores, membros do clero, advogados, policiais, jornalistas, psicólogos que atendem vítimas e abusadores, e um padre condenado pelo crime.
O resultado é um retrato da pedofilia na Igreja Católica no Brasil neste século: pelo menos 108 membros do clero foram acusados, indiciados, denunciados, condenados ou se tornaram réus por envolvimento em abuso sexual de crianças, adolescentes ou pessoas com deficiência intelectual em 96 cidades de 23 estados, de Caçapava do Sul (RS) a Xingu-Altamira (PA). Os casos, todos descritos no livro, envolvem arcebispos, bispos, monsenhores, padres, frades e, em um deles, uma freira.
"Pedofilia na Igreja", porém, não se restringe ao levantamento de crimes. O livro avança sobre as causas, as consequências e os desafios da própria Igreja Católica em virar uma das páginas mais tristes e chocantes de sua história. Temas que estão em linha com os esforços do papa Francisco, que de 2014 a 2022 emitiu 15 documentos sobre abuso de menores e fez do combate à pedofilia a principal bandeira de seu pontificado.