O QUE A ANTROPOLOGIA TEM A DIZER sobre
o comportamento dos eleitores e, de modo mais
amplo, sobre o funcionamento da democracia?
Esta é a pergunta e o desafio assumidos pelo
antropólogo e professor do Museu Nacional
(UFRJ), Marcio Goldman, a partir de uma
pesquisa de quase sete anos de duração.
Levando adiante a tradição antropológica, firmada
sobretudo na etnografia e no trabalho de campo,
o autor procura pensar um problema "grande"
- o funcionamento do sistema político moderno,
a democracia - por meio de um recorte "pequeno",
no caso, o envolvimento político e os modos de
pensar a política de um grupo de pessoas que vivem
na cidade de Ilhéus (sul da Bahia) e integram um
segmento do movimento negro, além de serem
adeptos do candomblé.
O passo decisivo para uma análise como esta é levar
a sério o que as pessoas têm a dizer, ainda que o seu
discurso possa contrastar com os pressupostos da
democracia representativa. A finalidade de uma tal
abordagem é produzir uma "teoria etnográfica",
fazer com que as idéias do analista, e as nossas em
geral, sejam afetadas pelas dos outros e, no caso,
problematizar a democracia como ideal abstrato
a partir da descrição de seu funcionamento efetivo,
envolvendo pessoas e situações concretas.