Presente no morrer é uma frase que prontamente descreve a condição humana. Nós podemos ser únicos entre as espécies, no sentido de sermos conscientes de nossa mortalidade. Apesar de a capacidade de contemplar a morte ser um traço humano essencial, a maioria das pessoas evita ativamente pensar sobre como sua vida pode terminar.
Enquanto a orientação dominante da cultura ocidental diante da morte é a negação, por mais de 2.500 anos os budistas têm estudado a questão de como alguém pode viver melhor na presença da morte. Em certo sentido, um ferimento ou doença que ameace nossa vida faz de nós todos budistas, acordando-nos da ilusão da imortalidade, de repente e desse tempo em diante. A partir do momento do diagnóstico, a morte se torna o sino que não para de tocar. Como uma temida chamada telefônica, podemos tentar evitá-la, mas o ruído está sempre lá. Podemos nos distrair com informações médicas e atividade frenética. Podemos beber ou tomar drogas para colocar a sujeira debaixo do tapete, mas nos momentos silenciosos nós podemos sempre ouvir o seu soar. Por último, usualmente relutantes, descobrimos que somente atendendo à chamada podemos ter esperança de silenciar a campainha estridente que soa dentro de nós.
Uma doença que nos ameaça a vida nos chama para um lugar - metaforicamente um deserto ou o pico de uma montanha - onde, assim que sentamos, o duro vento da realidade remove todos os ornamentos da vida, como o excesso de roupas, maquiagem e acessórios. Somos deixados nus, somente "eu" com minha inspiração e expiração neste momento, aqui e agora. A doença revela que a cada momento de cada dia nós estamos - e sempre estivemos - meramente a uma batida de coração distantes da morte. Este fato incontrovertível não precisa ser deprimente. Ao contrário, como Roshi Joan Halifax eloquentemente expressa neste extraordinário livro, nossa prontidão para morrer pode informar e avivar a maneira como vivemos e como nos relacionamos uns com os outros.