Esta autobiografia tem origem na curiosidade irrequieta do diretor Werner Herzog, no seu fascínio com as questões fundamentais da existência e na observação minuciosa dos fenômenos da natureza e do ser humano, características que também marcam e definem sua aclamada obra cinematográfica.
Nos episódios narrados, os personagens são familiares, amigos, colaboradores, amores e até mesmo os heróis míticos da infância passada em Sachrang, "a mais remota de todas as aldeias na Baviera" - onde o cineasta aprendeu a ordenhar vacas muito antes de fazer filmes. As memórias aqui são acompanhadas pela constatação de que o destino, tal qual um roteiro cinematográfico, sempre reserva algumas reviravoltas. Composto de luzes e sombras, este livro traz a caverna de Chauvet, preservada no escuro de seu interior, ou o poço fundo em que Herzog muitas vezes se viu desempenhando o "trabalho estranho que os filmes exigem". Aqui cintilam lanternas de carbureto e o cosmo magnífico com o qual um dia ele se reencontrou e teve a certeza de que sua vida não seria ordinária.
Ao revisitar personagens e expedições, temas, filmes, óperas, livros e momentos de alta tensão em que, para realizar sua obra, se manteve como um equilibrista cercado por abismos, Werner Herzog volta a mergulhar em profundezas insondáveis para de lá emergir com a mais fantástica das histórias: a sua própria.